Ladrar sem motivo (Ansiedade por separação)

Bom dia Silvio,

Hà 3 meses fui ao canil de Lisboa buscar uma rafeira, a Loreta. A educação da Loreta não tem sido fácil, está agora com 6 meses. Além da destruição da cozinha, espaço onde se encontra durante o dia, ladra desalmadamente sem parar, estando-nos a criar problemas sérios.

Que conselho poderia dar para este tipo de situação?

Entretanto, aproveito para dizer que ela esteve um fim de semana comigo, que a misturei com outros cães, o que se veio a revelar má ideia, pois gania sempre que eles se aproximavam dela, gania se lhe agarrava no pêlo para a sentar... Tive de a colocar dentro de casa, com companhia, para finalmente controlar o barulho que ela fazia.

Cumprimentos,
Margarida
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Margarida:

Há sempre um motivo para ladrar. Já foram identificados vários e com vários timbres e tipos de ladrido, em função dos motivos que os causam, mas vamos debruçar-nos sobre o caso presente que tem todas as características de uma neurose chamada “Ansiedade por Separação”, que se manifesta através dos seguintes sintomas:

- Vocalizações típicas e excessivas;
- Comportamento destrutivo;
- Micção e/ou defecação inadequada;
- Vómitos e/ou diarreias;
- Aumento de conduta de “grooming”;
- Dermatoses psíquicas.

Basicamente, "Ansiedade por Separação" é um tipo de comportamento anómalo que só acontece como consequência da ausência do dono. Apresenta-se com mais intensidade em indivíduos cujo instinto gregário está mais desenvolvido, quer dizer, cuja ligação ao dono e à família é maior.

A "Ansiedade por Separação", como o nome indica, é um estado neurotico/depressivo em que o cão entra, passados cerca de dez minutos, a partir do momento que fica só em casa. O tipo de ladrido é fácil de identificar: ladra três ou 4 vezes e aguarda pela resposta e volta a ladrar novamente. Nos intervalos dos ladridos espera por uma resposta, como ela não vem continua, entrando assim neste ciclo que pode durar várias horas.

Causas:

Excessivo desenvolvimento do instinto gregário por parte dos donos em altura crucial da sua educação. Demasiada atenção aos estragos, principalmente na presença do cão, e aos ladridos que este produz. Problema dos cães adoptados: nunca se sabe o que os levou à situação de abandono.

Tratamento:

O tratamento deve ser direccionado a combater a grande dependência que o cão tem do dono. Meia hora antes de sair de casa o dono não deve dar atenção ao cão, ignorá-lo até. E o mesmo deve acontecer ao chegar a casa, acariciá-lo nesta situação é premiá-lo por uma acção inadequada. Insisto, ainda que o cão se tenha comportado muito bem na ausência do dono, não se deve acariciar nem brincar com o cão no período que medeia a chegada a casa e tal meia hora. É especialmente importante que não lhe ligue, mesmo que ao chegar a casa verifique que houve uma acção inadequada na sua ausência, os cães preferem a admoestação à solidão. O mero acto de o castigar pode ser interpretado pelo cão como uma "preocupação" por ele, é que, muitos cães também sabem o que é o masoquismo.

Sugiro que o treine com o objectivo de aceitar melhor a sua ausência. Fazendo-o primeiro por curtos períodos que se vão alargando até ao período de tempo em que tem necessidade de diariamente se ausentar.

Por fim, e enquanto faz este tipo de treino, pode consultar o seu médico veterinário que a aconselhará qual o melhor antidepressivo para esta situação, pois será uma boa ajuda para o sucesso do mesmo.

Um abraço

Sílvio Pereira
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Sílvio muito obrigada

Cumprimentos,
Margarida

Caro Silvio

Aproveito este tópico para lhe expor outro caso:

o cão em causa quando fica solto pela casa faz sempre um percurso igual, quase circular, à volta do jardim, ladrando para os muros e sebes sem ninguem nem nenhum animal do outro lado, continuamente, da mesma forma que ladra por exemplo qdo esta alguem do outro lado do portao e ele pressente isso. O que poderá significar este comportamento? É capaz de passar noites inteiras a percorrer o mesmo trajecto e a ladrar para o muro obsessivamente.

Tem este comportamento independentemente da nossa presença. Reage às ordens ainda que de forma mais demorada. Que eu me tenha apercebido este comportamento nunca foi incentivado mas julgo que terá começado devido à presença de pessoas ou animais mas com o tempo acabou por se criar como um hábito independentemente de estarem pessoas ou animais nas zonas contiguas aos muros da casa.

O que lhe parece que possam ser as causas? e como lidar com a situação?

Bom dia Gustavo:

A situação que relata é um problema comportamental bastante frequenta que tem o nome, "Comportamentos Estereotipados". Antigamente chamava-se "Comportamentos obsessivo-compulsivos". Esta patologia caracteriza-se por o cão apresentar condutas repetitivas, sempre com a mesma sequência sem possuírem, apesar de tudo, uma função aparente. Quer dizer, o cão desenvolve o mesmo comportamento uma e outra vez sem que esta vá ao encontro de um fim em concreto.

Este comportamento pode ter causas orgânicas (médicas) ou inorgânicas (comportamentais). No caso das inorgânicas, que é o que nos interessa o tratamento deve processar-se da seguinte maneira:

O protocolo básico de tratamento centra-se em modificar o ambiente que provoca esse stress no cão. Diminuir o stress mediante a administração de fármacos é igualmente necessário.

Há que referir que o tratamento nem sempre é eficaz, depende também do tempo que levou a manifestar-se o problema e muitas vezes há que actuar por tentativa-erro até que encontremos o tratamento adequado. É importante, neste momento, implicar o dono no tratamento para que este não o abandone por aborrecimento.

A modificação do ambiente depende muito de cada caso em concreto e da causa que tenha. Muitas vezes mudar o animal para outro sítio, pode ter efeitos bastante satisfatórios. Sobretudo é importante explicar ao dono que não preste atenção ao cão quando este desenvolve a conduta, evitando assim reforçá-la involuntariamente.

É muito útil instaurar uma rotina de interacção com o cão, adestrá-lo em obediência, brincar e eliminar por completo os castigos no seu dia a dia.
É lógico que os fármacos nunca devem ser usados isoladamente, já que não resolvem a causa do problema. Terão sempre que ser acompanhados por um programa de modificação ambiental e comportamental.

Sílvio Pereira